História
do Puro Sangue Inglês
Obviamente
os três garanhões não foram os únicos animais orientais que, cruzados com os
eqüinos autóctones das ilhas britânicas, se constituíram nos fundadores de
uma raça criada com apuro Thoroughbred, como é chamada pelos ingleses para o
fim especifico de disputar corridas, após quase ré, séculos de rigorosa seleção
e cuidadosa consangüinidade, houve muitos animais importados pelos britânicos,
e não apenas garanhões, como também éguas matrizes, das diversas linhagens
orientais. Contudo, em linhagem direta, de pai para filho, apenas três garanhões
estabeleceram estirpes que são as mesmas em qualquer parte do mundo onde se
dispute eventos turfísticos dentro das normas tacitamente aceitas pelos
desportistas, independente de nacionalidades ou mesmo sistemas econômicos ou
políticos.
Nos
países do bloco soviético há corridas de cavalos, embora os animais não
sejam de proprietários particulares. Mas, embora pertencendo ao Estado, suas
linhagens seus pedigrees, como se diz respeitam
meticulosamente as regras e disposições do primeiro livro de registro da raça,
o famoso Stud Book, instituído e publicado pela família Weatherby, em 1791.
Deste General Stud Book inglês resultam os respectivos livros de registro
genealógico dos demais paises onde se criam cavalas PSI. É o livro onde são
registrados os animais que nascem, observadas as regras e disposições
universais.
A
regra mais importante é a de que um animal, Para obter registro,
obrigatoriamente deverá ser filho de um garanhão e de uma égua que, por sua
vez, já eram registrados. Ou seja, nenhum cavalo obtém registro como um PSI,
se seus pais já não o tiverem. Obviamente, se o Stud Book de todos os países
do mundo resultam dos relançado no Stud Book da família Weatherby, a criação
dos animais PSI, em cada país, forçosamente foi iniciada com a importação de
animais ingleses, e devidamente registrados pelos Weatherbys.
Há
registro de corridas de cavalos há quase 5 mil anos. O mais antigo data do ano
de 3000 a.C. quando o soberano de um pequeno reino perdido na bruma da História
chegou a lançar num papiro os nomes dos animais de sua coudelaria real. Já na
Grécia, nos vigésimo-terceiros jogos olímpicos da Antiguidade, realizados em
625 a.C., houve corridas de cavalos e, em 430 a.C., o grego Xenophon publicou o
mais antigo manual de Inpologia de que se tenha conhecimento na atualidade.
Nas
ilhas britânicas, por sua vez, o esporte também é multimilenar, disputa da
Lanark Silver Bell, prova que faz parte do calendário anual de corridas de
cavalo da Escócia até os dias de hoje, foi instituída em 1200 a.C.!
Contudo,
as bases para o turfe, como o conhecemos agora, foram assentadas durante o reino
de Elizabeth, a primeira, entre 1558 e 1603, da nossa era cristã. A soberana
encarregou Robert Dudley, o conde de Leicester, com a missão de estabelecer
centros de equinocultura, Para dirigi-los, o conde contratou o napolitano Próspero
d'Osma, que deu inicio à importação de garanhões.
O
próximo soberano britânico, o escocês James I, foi o grande patrono do
esporte, importando garanhões orientais e determinando que o vilarejo de
Newmarket fosse transformado num centro de treinamento e de corridas.
Idealizava-se, a 19 de março de 1619, o primeiro hipódromo nos moldes dos
atuais. Foi inaugurado com suas diversas raias de grama, em 1636, já no reinado
de Charles I, que ordenou a criação de outros centros turfísticos.
Sob
a responsabilidade do duque de Buckingham foram importadas duas dúzias de
animais Árabes, da Espanha, sobretudo, entre os quais o garanhão Place's White
Turk.
O
monarca Charles I foi deposto e decapitado pelo general Cromwell que dentro de
seu puritanismo protestante decretou a proibição das carreiras
por causa, do jogo - mas continuou a incentivar, eqüinocultura. Durante
sua ditadura foram importados dois notáveis garanhões Árabes, Hemsley Turk e
Fairfax’s Morocco Barb, enviados de Constantinopla.
Restaurada
a monarquia, o soberano Charles II determinou a importação de um lote de éguas
orientais, dando uma base das mais sólidas à equinocultura inglesa. Foram a,
denominadas Royal Mares. Seu irmão e sucessor, James II, último monarca da
linha Stuart, por sua vez, importou um expressivo lote de garanhões para cobrir
as éguas reais Lister Turk, Hutton’s Bay Turk, Barb Chillaby, D’arcy’s
White Turk (que foi pai de Common e Grey Royal), D'arcy’s YeIlow Turk (que foi
pai de Spanker), Matthew’s Persian, Croft's Egiptian, Hutton's Bay Barb, Mark
Len's Persian e ST. Victor’s Barb, todos vindos diretamente do oriente.
Da
França vieram, ainda, Thoulouse Barb e, sobretudo, Curwen’s Bay Barb, de
excepcional influência, tendo sido pai de Mixbury, Tantivy e Mistake, além de
ter sido o avô materno de Partner, um dos grandes elos numa linhagem que
sobreviveu em linha direta até o presente.
Todos
estes animais, e muitos outros, fazem parte da formação da raça e obviamente,
entrariam no pedigree da maioria dos cavalos atuais, se fossemos distender suas
genealogia â trigésima geração.
Pelas
leis da genética, qualquer antecessor pode predominar na formação de um
individuo. Assim, um cavalo pode, através de sua mãe, herdar características
predominantes do pai da mãe de sua mãe, ou seja, de um bisavô da linhagem
feminina. Contudo, para efeito de registro de linhagem, como acontece também
entre os humanos, considera-se uma estirpe sob o aspecto sucessório direto de
pai para filho. É desta forma que temos apenas três linhagens masculinas das
quais todos os PSI do mundo são descendentes diretos.
O
primeiro garanhão a fundar uma estirpe chegou ao turfe através doa campos de
batalha. Foi capturado em Viena quando os cristãos derrotaram e expulsaram
turcos, em 1683. Levado para a Inglaterra, o animal passou a ser conhecido pelo
nome de seu proprietário, como era o hábito, além de ser chamado de turco
embora fosse da raça
Árabe.
O Byerley Turk voltou ao campo de batalha, montado pelo dono, o coronel Byerley,
na Irlanda onde as tropas do novo monarca William III derrotaram o exército de
seu sogro e antecessor, James II, que havia sido deposto.
Após
a refrega, o Byerley Turk passou à reprodução de cavalos de corrida. Foi pai
de Jigg, que foi pai de Partner (neto materno de Mistake, como citamos), que foi
pai de Tartar, que foi pai de Herod, grande chefe de raça que gerou nada menos
que três ramos importantes de garanhões, através de Florizel, High Fever e
Woodpecker. Destes ramos, através dos séculos, passamos por animais como Le
Sancy (cujos descendentes acentuaram a pelagem tordilha no Brasil), The Tetrarch
e, sobretudo, a seqüência Bruleur, Ksar e Tourbillon.
Dois
cavalos garanhões do turfe brasileiro, Fort Napoleon e Coaraze, eram filhos de
Tourbillon. Vacilante da linha de Tourbillon deu Troyanos craque nas pistas. Não
podesmos esquecer de citar Roxinho tríplice coroado paulista, cuja mãe
descende de Tourbillon. No turfe
mundial, Tourbillon predominou através de seu filho Djebel (pai de My Babu) e
do grande campeão Ambiorix. Outro filho de Tourbillon. Goya II, influenciou
tanto o turfe mundial, quanto o nosso, através de seu filho Sandjar, um doa
grandes chefes de raça da criação brasileira dos Toledo Lara.
Outro
filho de Goya II foi Orbaneja, pai dos campeões e garanhões nacionais Ortile e
Major’s Dilema é pai de Donética ganhadora do GP.São Paulo que gerou Kenético.
Kigrande tinha como avô materno Major’s Dilema .Citamos apenas alguns nomes,
pois foi muito extensa a influência desta estirpe no Brasil, inclusive através
de netos de Tourbillon importados posteriormente. Se citarmos os principais
filhos de Coaraze e de Fort Napoleon (e os seus filhos, por sua vez), esgotaríamos
nosso espaço com esta única linhagem.
A
criação de uma raça de cavalos cada vez mais adequada às corridas continuou
recebendo o apoio dos monarcas, da nobreza e da aristocracia na Inglaterra. O
rei William III fundou o Stud Real em Hampton Court e, posteriormente, em 1695,
contratou um cidadão chamado Tregonwell Frampton para tratar dos cavalos da
coudelaria real, estabelecendo desta forma a profissão de treinador
profissional do turfe.
Em
1703, uma aristocrata adquiriu um garanhão do xeque Mirzar, criador de cavalos
Árabes da linhagem Managhi, uma das mais importantes até os dias atuais. Após
muita confusão, na qual o aristocrata de Yorkshire alegava que o xeque estaria
quebrando a palavra dada, rompendo o trato de venda, e do xeque, por sua vez,
alegando que não havia sido pago, o fato é que o inglês conseguiu confiscar o
garanhão, leva-lo para a Inglaterra e, como era de hábito, dar o seu nome ao
animal: Darley Arabian, o fundador da mais expressiva das três linhagens
Paternas.
O
Darley Arabian foi pai de Flying Childers, considerado o mais veloz animal do
turfe inglês de todos os tempos, mas sua linhagem não teve continuidade através
deste campeão. Foi outro filho, carreirista apenas modesto, Bartlet’s
Childers, que gerou a Squirt, pai, de Maske, um campeão que, por sua vez, foi
pai do grande campeão invicto
e
chefe de raça, Eclipse. Seus filhos King Fergus e Pot-8-os geraram dois ramos
que dominam cerca de 85 por cento do turfe internacional de hoje.
Seria
impraticável citar os grandes campeões e chefes de raça destes ramos, através
dos séculos. Só o legendário St. Simon, por exemplo, se desdobrou em nada
menos que cinco novas dinastias, que nos dias atuais nos brindaram com Ribot,
Round Table e Sicambre entre outras. Ainda descendendo de Darley Arabian temos
as linhagens de Son-in-Law (que nos deu Adil); de Oleander (cujo filho Orsenigo
foi pai do nosso insuperável Escorial); de Hyperion (linhagem que nos deu campeões
como Farwell e Duplex entre centenas de outros); de Asterus (cujo filho
Formasterus foi pai do nosso célebre Helíaco). Esta linha pertence ao chefe de
raça Teddy, do qual descendeu Vomage (Brz) e Off The Way (Brz), entre outros.
Deixando
de lado as implicações da estirpe do Darley Arabian no nosso turfe
diretamente, citamos nomes que dominaram e dominam a quase totalidade dos
grandes prêmios mundiais: Blandford, Donatello, Sir lvor, Congreve, Citation,
Kelso, e omitimos mais uma centena de nomes para dar espaço a Phalaris, pai de
Fairway e Pharos.
Estamos,
então, diante da maior explosão de genialidade eqüina. Por
Fairway chegamos a Fair Trial, a Petition, Court Martial, Brigadier Gerard, etc.
Através de Pharos vamos a Pharis, a Nearco e toda a constelação que descende
deste: Nasrullah, Ballymoss, Never Say Die, Nashua, Mill Reef, Northern Dancer,
Nijinsky,Gren Dancer, Ghadeer , Nureyev, Shirley Heights, Darshaan , Blushing
Groom, Seattle Slew, Riverman, Danehill, sobretudo Bold Ruler, pai de uma dúzia
de campeões como Secretariat. No Brasil, com grande destaque do ramo de
Nearco, I Say (pai de Clackson) e Tumble Lark. De Phalaris também foi filho
Pharamond (cujo ramo deu Tom Fool e Sickle (de quem descendem Polynesian, Native
Dancer , Mr.prospector, Fappiano , Roi Normand, Buckpasser, etc...
Efetivamente, a estirpe de Darley Arabian e seus inúmeros ramos dariam uma edição especial do PSI, senão uma coletânea em fascículos. . .
A
mais românica linhagem pertence ao garanhão Godolphin Barb, um cavalo também
Árabe que foi dado ao rei Louis XV de França pelo sultão do Marrocos. Da
coudelaria real o cavalo foi acabar puxando carroça nas ruas de Paris, onde
Edwin Coke, um inglês conhecedor de cavalos, chegou à conclusão de que se
tratava de um representante da linhagem Árabe denominada Jilfan, uma das mais
imponentes daquela raça, cujos animais atingiam acima de 1m52 na cernelha, numa
época em que raros eram os cavalos Árabes que ultrapassavam a altura de 1m45.
O cavalo foi comprado, levado à Inglaterra e vendido ao conde de Godolphin, em
1730.
Segundo
a difundida versão romântica, o garanhão teria atacado e derrotado em combate
o principal campeão do conde, merecendo, assim, a honra de assumir o harém de
éguas matrizes da criação Godolphin. Seja fato ou fantasia, o Godolphin Barb
gerou o campeão Cade, que foi pai do excepcional Matchen, um campeão que viveu
até os 33 anos de idade e deixou uma linhagem que sobrevive até nossos dias
sem haver sido muito ramificada, sendo a mais hermética das três estirpes
mundiais.
Neste
século, dois ramos se destacaram, o de Hurry On (que deu Precipitation, da qual
descende Henri Le Balafré, 2 cavalos influentes na criação brasileira, e
Coronach, pai de Corrida, a mãe do nosso grande raçador, Coaraze e o ramo de
Man O’War, o imortal ídolo dos Estados Unidos, do qual foi filho o Tríplice
Coroado americano War Admiral.
A
descendência de War Admiral foi primordial na nossa criação, através de
Locris e Nordic, em passado recente aqui no
Brasil.
Nenhuma
outra raça eqüina, nem mesmo a Árabe que
foi a raçadora do Puro Sangue Inglês possui
registros genealógicos tão perfeitos.