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GPs INESQUECÍVEIS |
por Clackson
A história do turfe possui uma extensa galeria de
heróis, mas poucos são os que, com uma condição física inferior,
sobrepujaram-se sobre adversários fisicamente superiores, e Derek com justiça,
pertence a esse seleto grupo, quando de sua vitória espetacular no Grande
Prêmio Associação Latina Americana de Jockeys Clubs , corrido em 1983 em Cidade
Jardim.
Antes de falar propriamente do páreo, é necessário abrir um
parêntese e escrever sobre a eliminatória para esse GP, e os desdobramentos
posteriores antes do páreo, pois os deuses do turfe trabalharam
insistentemente, pois nada do que parecia ser a lógica natural, acabou
vingando.
O campo do páreo da eliminatória, corrido em CJ (Cidade
Jardim), na raia de grama pesada, por si só era digno de um GP Brasil,
visto que os melhores animais do país estavam inscritos. Nomes como Off the
Way, Kenético, Leão do Norte, Clackson, e outros estavam na disputa.
O pensamento comum era que a Off the Way e mais
um é que se classificariam, visto que nesse tipo de raia, dificilmente a
égua do haras Faxina perderia, mas logo na largada os deuses do turfe se
puseram a agir, pois o Roberto Penachio caiu do dorso da Off the Way,
deixando assim aberta a porta da loteria que seria do páreo.
Por essa queda o Penachio viria a ser barrado no Haras
Faxina.
Derek foi montado pelo Barroso e o Kenético, de maneira
heróica, montado pelo bridão Luis Correa Silva, conseguiram as vagas, e para se
ter uma idéia do favoritismo da Off the Way, o Derek rateou na ponta 9,80.
Uma semana antes do GP Latino Americano, os deuses puseram-se
novamente a trabalhar, pois inexplicavelmente o Haras Malurica barrou o jockey
herói da classificação, L.C Silva, optando pelo Gabriel Menezes, e o Derek
acidentou-se na raia e derrubou o Barroso, que teve uma costela fraturada e
assim ficou impedido de montar.
O turfista paulista ficou perplexo, pois Derek machucado,
Barroso fora do páreo, Kenético com outro jockey, e os bichos papões sul
americanos chegando.
E o deuses do turfe mais uma vez interfeririam na
história.....
Eis então que surge a notícia que o Derek correria o páreo
, e por indicação do Barroso, seu jockey seria o L.C. Silva. Sim ele mesmo, o
barrado do Malurica tinha agora a montaria de um animal em condições físicas
inferiores aos demais.
Até estava parecendo um de filme de Hollywwod, mas o final
do filme ninguém sabia.....
Um dia chuvoso, com a raia novamente pesada, e um
hipódromo lotado, tão raro no dias de hoje, foi o palco do GP.
No Jockey respirava-se uma atmosfera de final de Copa do
Mundo, final essa em que o Brasil estaria jogando com 10 jogadores, pois as
condições do Derek preocupavam, e ninguém poderia dizer que o Kenético
repetiria o feito da seletiva.
A grande pergunta dos turfistas era: Será
que dá?
Dada a largada do páreo, o chileno Marc toma a ponta e
livra 2 corpos com Derek e Kenético em segundo , em terceiro
respectivamente, El Temido em quarto , e a égua Salinidad em quinto.
No final da reta oposta Marc ainda em primeiro com Derek e
Kenético em quinto e sexto, e todos os olhares dos turfistas eram um
misto de esperança ( remota ) e medo.....
Na curva da vila hípica, Never Bad do turfe carioca toma a
ponta e Salinidad fica em segundo com o Derek e Kenético avançando.
Nessa hora tem de se abrir um parenteses sobre a forma do
L.C Silva montar, pois ele era um jockey com uma tocada muito eficiente,
mas era uma tocada discreta, muito longe das braçadas vistosas e empolgantes do
Gabriel, do Barroso, do Quintana, porém quando ele tomava a ponta em um páreo,
era difícil perder.
Pois bem, lá pelos 400m a Salinidad tomou a ponta e o Derek
vem ao seu encalço, na já comentada tocada do L.C Silva, e por fora o
Gabriel voava para cima dos dois.
O público sentindo que um dos dois poderia chegar pela
briga, se bem que o " queridinho " era o Derek, pois machucado e
ainda disputando o páreo, era tudo que o público queria ver e torcer.
O hipódromo literalmente estava vindo abaixo e angustiado
pois a Salinidad não se entregava, o Derek naquela tocada eficiente mas nada
vistosa, e o Kenético vindo....
Lá pelos 200m Derek chega muito mais perto da égua e o
Kenético ainda tentando se aproximar dos dois e o público indo à loucura,
loucura digna de uma final de campeonato, pois todo mundo se abraçou na
esperança que uma corrente prá frente levasse o " inferior " Derek a
suplantar à máquina Salinidad.
Nos 150 m Derek finalmente encosta na égua e a impressão
era que agora talvez desse para passar !!!
E a tocada do L.C Silva na mesma !!!! Kenético por
fora, Salinidad por dentro o público estava em transe frenética, quando de
repente o Derek livra pequena vantagem sobre a égua.
Até hoje guardo, e sempre guardarei, os momentos
inesquecíveis desse páreo, e olha que já se passaram 20 anos, pois é impossível
descrever a emoção de ser ver um cavalo em condições físicas inferiores, se
esforçar ao máximo e heróicamente suplantar os adversários.
Derek livrou 3/4 corpo sobre Salinidad e o Kenético em
terceiro, e quando ele cruzou o disco a explosão do público foi digna de um gol
em Copa do Mundo .
Todos se abraçavam, cumprimentavam-se como se
tivessem empurrado o Derek para a vitória, pois para se ter uma idéia
comparativa, é como se o Brasil na final da Copa do Mundo contra a Argentina,
jogando com 10, tivesse marcado um gol aos 45 minutos do segundo tempo.
Indescritível, mágica. Essas são as melhores palavras para definir o que
ocorreu naquele Latino Americano em CJ.
A justiça dos deuses do turfe fôra feita, pois o barrado
L.C.Silva saiu como herói daquela epopéia, a Salinidade acabou fazendo segundo
e o Kenético em terceiro .
Coincidência maior , era que a terceira edição do GP Latino
Americano foi vencido por um animal brasileiro, cuja letra inicial do nome era
" D ", pois seus heróicos antecessores, foram os imortais Dark Brow e
Duplex.
O turfe do Brasil era em 3D !!!
Nelson Rodrigues dizia que a seleção brasileira de futebol
era a Pátria de chuteiras, mas posso afirmar como testemunha , que naquela
tarde de 6 de março de 1983, a Pátria tirou as chuteiras e pôs o bridão.