Cavalos Inesquecíveis


 

 Quartier Latin

 

JC Matano

Quartier Latin foi, indubitavelmente, o melhor milheiro brasileiro de todos os tempos. Não foi precoce; no seu primeiro ano de campanha, em 68, muito embora tenha se mostrado bom potro, estava ainda longe de seu apogeu. Atuando apenas em São Paulo, venceu 3 corridas, inclusive o Prêmio Primavera. Foi, ainda, 2º no Clássico Outono e no Prêmio Escorial. No ano seguinte, em 69, assomou já entre os melhores milheiros em atividade.

Venceu 2 provas em cidade Jardim, inclusive o GP. Presidente da República G.1 e chegou em 2º no G. P. Governador do Estado  e no Clássico Prefeito do Município da Capital, também em São Paulo, não tendo sido feliz em suas poucas incursões na Gávea, onde encontrou sempre pista pesada, à qual não se adaptava. Somente em 70, porém, viria a atingir o máximo de seu desenvolvimento.

Triunfou, neste ano, em 5 corridas, todas clássicas, que foram o G. P. Presidente da República G.1, pela 2ª vez, o Clássico Prefeito do município da Capital e o Prêmio Antonio Prado, em Cidade Jardim, e o GP. Presidente da República G.1  e o G. P. Salgado Filho, no rio; e colocou-se em 2º nos GP. Presidente do Jockey Club  e Linneo de Paula Machado , em São Paulo. Finalmente, em 71, tornou a vencer 5 vezes, inclusive o GP. Presidente da República G.1 , pela 2ª vez, na Gávea, onde chegou em 2º no G. P. Salgado Filho.

Ao todo, correu Quartier Latin 36 vezes, para vencer 15 e colocar-se em 16. Triunfou em 8 provas clássicas, todas na milha, inclusive em 4 clássicos internacionais, o que, por si só, demonstra a sua classe excepcional. Note-se que apenas um outro cavalo nacional especialista na milha conseguiu triunfar em mais de uma prova de caráter internacional.  Ressalte-se, também, que Quartier Latin marcou sempre tempos excelentes para época, tendo, mesmo, batido por duas vezes o recorde dos 1.600 m, no Rio. Ressalte-se, ainda, que, em 70, derrotou ele, por ampla margem e em duas ocasiões, o argentino Maltrato, um dos 3 melhores milheiros de seu país naquela temporada.

Seu pai é o reprodutor francês Faublas,  que foi parelheiro clássico em seu país de origem, onde correu apenas 7 vezes, para triunfar em 3, inclusive no Prix Noailles e no Prix Daphnis, e chegar em 2º também em 3, inclusive no Prix de la Salamandre. Sua única descolocação ocorreu no Prix du Jockey Club (Derby francês), do qual era um dos favoritos, tendo sofrido um contra-tempo, que provocou o seu afastamento das pistas. Importado pela extinta Fazenda São João e Graça, serviu, posteriormente, no Haras São Bernardo. Faublas mostrou-se excelente reprodutor, tendo produzido, além de Quartier Latin, Nageur (vários clássicos, inclusive o G. P. Cruzeiro do Sul - Derby - no Rio, e os GP. Antenor de Lara Campos e Linneo de Paula Machado.

Pharis, pai de Faublas, foi excepcional corredor, sendo  considerado o maior cavalo francês do século. Invicto, venceu em estilo sensacional as 3 únicas provas que disputou, o Prix Noailles, o Prix du Jockey Club e o Grand Prix de Paris. Na reprodução, portou-se à altura de sua classe extraordinária, tendo sido 4 vezes leoding sire na França, em 44, 50, 51 e 52, e produzido Ardan (GP de l´Arc de Triomphe, Prix du Jockey Club, GP. de St. Cloud, Coronation Cup, Prix Lupin, Prix Robert Papin), Scratch (Prix do jockey Club, St. Léger). Auriban (Prix du jockey Club, Prix Morny, Prix Robert Papin), Philius (Prix du Jockey Club), Corejada (Irish Óaks, Paule d´Essai des Pouliches, Cheveley Park), Palencia (Poule d´Essai des Pouliches), Priam (Grande Critérium, Hardwicke Stakes), Talma (St. Léger Strakes), Dynamiter (Champion Stakes e Hardwicke Stakes) etc. Note-se que Pharis produziu 4 derby winners franceses.

Pharos, pai de Pharis, foi excelente performer na Inglaterra, em provas de distâncias intermediárias, tendo obtido 14 vitórias, entre as quais o Champion Stakes, o Royal Stakes e o March Stakes, e chegado em 2º no Derby Stakes, alcançado nos últimos metros por Papyrus. Excepcional garanhão, venceu a estatística britânica de reprodutores em 31, e a da França em 35 e 39, tornando-se o grande divulgador da linha de seu pai Phalaris na Europa continental, enquanto o seu irmão inteiro Fairway fazia o mesmo na Inglaterra.

O fundamental Phalaris, pai de Pharos, foi o melhor sprinter inglês de seu tempo, tendo alcançado 16 trunfos, inclusive no Challenge Stakes, no June Stakes, no Stud Produce Stakes etc. No haras alcançou êxito absolutamente fantástico, sendo, de longe, o mais influente chefe-de-raça do presente século, influência esta cada vez mais acentuada, no cenário turfístico mundial.  

Pelo lado paterno, Faublas pertence, pois, ao grupo Eclipse, devendo-se acrescentar que ao ramo Phalaris-Pharos também pertencem, entre muitos outros, Nearco, Dante, Nimbus, Sayajirao, Mossborough, Ballymoss, Leymoss, Royal Charger, Turn To, Hail to Reason, Nearctic, Northern Dancer, Nijinsky, Hard Sauce, Hard Ridden, Hardicanute, Pardal,  Phidias, Pharas.Etc...

Naziad, mãe de Faublas, é também mãe de Marsyad (Dewhurst Stakes). Naziad é irmã materna de Albanilla (Critérium de Maison-Laffitte), de Floriana (ídem) e de Corejada (Irish Óaks, Poule d´Essai des Pouliches, Cheveley Park Stakes, e 2ª no Prix de Diane), a qual é mãe de Apollonia (Prix de Diane, Poule d´Essai des Pouliches, Grand Critérium, Prix Morny), de Macip (Gold Cup, Prix Royal Oak., Prix Maurice de Nieuil, Prix Kergorlay, ex reprodutor no Brasil) e de Arcor (Prix du Conseil Municipai e 2º no Derby Stakes).

Tourzima, mãe de Naziad, é irmá materna de Priam (Grand Critérium, Hardwicke Stakes, Prix d´Ispahan), de Djeddah (Eclipse Stakes, Champion Stakes, Critérium de Maisons-Laffitte), de Flamboyant de Fresnay (ex reprodutor em nosso país) e de Palaos, mãe de Pharaos (Prix de la Forêt, Prix du Bois).

Djézima, mãe de Tourzima, é irmã materna de Coronis, mãe de Amphis, de Calonice (mãe de Shaker, ganhador da Gold Vase) e de Damoiselle, a qual é mãe de Cardanil (Prix d´Arenberg, Prix de la Grotte e bom garanhão na Argentina).

Heldifann, mãe de Djézima, é irmã inteira de Durban (Prix Vermeille, Grand Critérium), mãe do fundamental Tourbillon (Prix du Jockey Club, Prix Lupin, Prix Greffulhe, Prix Hocquart, grande chefe-de-raça francês , de Banstar (Prix Morny, Prix Eugéne Adam, Prix La Rochette  e de Diadéme (Prix Penélope), avó de Caravelle (Prix de Diane, Poule d´Essai des Pouliches, Grand Critérium, Prix de La Forêt - 2 vezes), a qual é mãe de Cordova (Prix Morny, Prix Robert Papin, Prix Eugéne Adam) e de Janiari (Prix Vermeille, Prix Penélope, Newmarket Óaks e 2ª no Óaks Stakes e no Irish Óaks).

Banshee, mãe de Heldifann, venceu o Poule d´Essai des Pouliches G.1. A partir dela desenvolveu-se esta magnífica linhagem feminina, das mais brilhantes da criação Boussac, que durante muitos anos dominou as pistas francesas.

Fugue, mãe de Quartier Latin, é filha de Violoncelle, excelente corredor na França, onde venceu 8 corridas, inclusive o Grand Prix de St. Cloud, o Prix du Conseil Municipal, a Coupe de Maisons-Laffitte e o Prix d´Harcourt. No Brasil, Violoncelle estreou ganhando um handicap, em São Paulo, batendo, o recorde dos 2400 m.. No GP. São Paulo, porém, sua apresentação seguinte e do qual era um dos favoritos, acidentou-se, o que prejudicou a sua campanha posterior em nosso país.

Filho do excelente semental Cranach e da grande reprodutora Mantagnana, Violoncelle é irmã inteiro de Flute Enchantée (G. P. de Deauville e 2ª no G. P. de Paris) e materno de Ocarina (G. P. de St. Cloud e invicto) e de Guersant (Poule d´Essai des Paulains, Prix Ganay, Hardwicke Stakes, Prix de la Forêt). Como era de se esperar, produziu  Gaudeamus (vários clássicos, inclusive os GP. Derby Paulista G.1, Juliano Martins - Antenor de Lara Campos -,, Initié (vários clássicos, inclusive os GP. Diana G.1  Barão de Piracicaba G.1

Violoncelle foi, um grande avô materno, produzido por suas filhas,  Nageur (vários clássicos, inclusive o GP Cruzeiro do Sul - Derby -, no rio, e os G. G. P.P. Antenor de Lara Campos - Critérium de Potros - e Linneo de Paula Machado - Comparação, em São Paulo), Tonnerre ( vários clássicos, inclusive os GP. Consagração G.1- e GP. Presidente do Jockey Club , Onitié (vários clássicos, 2ª no G. P. João Cecílio Ferraz  - e 3ª no GP. Derby Paulista), , Quitié (2ª no G. P. José Guathemozin Nogueira -, em Cidade Jardim, e 3ª nos GP. Diana - e Henrique Passolo ), etc.

Quartier Latin resulta, pois, do cruzamento de garanhão Boussac em égua filha de reprodutor Rothschild, reunindo, portanto,  correntes de sangue das duas maiores criações da França da época. Este cruzamento, aliás, era frequente e amplamente bem sucedido no Haras São Bernardo, dele tendo resultado, entre muitos outros, o derby winner Nageur. Do cruzamento inverso (garanhão de sangue Rothschild em égua filha de semental Boussac) resultou, por sua vez, o derby winner Quiz.

Fugue é irmã inteira do já citado Gaudeamus, magnífico corredor que foi o 2º nome da grande geração liderada pelo craque Escorial, uma das maiores fornadas saídas de nossos haras. Conforme também já ficou dito, Gaudeamus foi bom reprodutor, prematuramente desaparecido.

CIDADE JARDIM, GP PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE 1969: QUARTIER LATIN BATE IGUAPE E PARDAL EM FINAL DIFÍCIL.

CIDADE JARDIM, GP PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE 1970: QUARTIER LATIN COMPLETA A MILHA EM ESTILO DE CANTER.

GÁVEA, GP PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE 1970: QUARTIER LATIN POR FORA, SUPERA COPERNIQUE, TAIOBA E LIBERTE.

GÁVEA, GP PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE 1971: QUARTIER LATIN BATE O ARGENTINO ESTRIBO, LUCCARNO E YOUNG AMERICUS.

Quartier Latin, foi um craque com certeza, deixou saudades em pistas nacionais. Seu sangue nobre via paterna PHARIS. Encantou à todos que tiveram a oportunidade, de ver ele em ação. Uma pena não termos cavalos de seu quilate em atividade. Por tudo que representou em pistas,esse grande corredor, se tornou um cavalo inesquecível.

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